Segundo ensaio clínico, um extrato específico de cannabis seria capaz de aliviar dores lombares crônicas – GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP/Arquivos
AFP –
Um extrato específico de cannabis pode aliviar dores lombares crônicas sem criar dependência, segundo um ensaio clínico publicado nesta segunda-feira (29), que, de acordo com alguns especialistas, demonstraria pela primeira vez que essa substância, especialmente desenvolvida para esses testes, seria capaz de tratar a dor.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as dores lombares, que afetam mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, são a principal causa de invalidez.
Os medicamentos usados para tratar esse tipo de dor se limitam a analgésicos comuns, como o ibuprofeno, que pode provocar efeitos colaterais graves em caso de uso prolongado, ou aos opioides, que criam forte dependência e podem ser perigosos.
O setor em plena expansão da produção de cannabis afirma que uma gama de produtos à base de maconha ou de canabidiol (CBD) pode ajudar a aliviar as dores, mas, segundo os pesquisadores, não havia até agora estudos confiáveis que sustentassem essa hipótese.
Nesta segunda-feira, os resultados de um ensaio clínico de fase 3 controlado por placebo foram publicados na revista Nature Medicine.
O estudo envolveu mais de 800 pessoas cujas dores lombares crônicas não eram aliviadas pelos medicamentos.
Os participantes foram convidados a avaliar seu nível de dor em uma escala de 1 a 10, após terem tomado o extrato de cannabis chamado VER-01, ou um placebo, durante um período de três meses a um ano.
Após 12 semanas, os que tomaram o extrato — uma dose de VER-01 com 2,5 miligramas de THC, o principal ingrediente ativo da maconha — relataram uma redução da dor de 1,9 ponto, em comparação a 0,6 ponto no grupo placebo.
Após seis meses, os participantes que consumiram o extrato afirmaram que sua dor diminuiu em mais 2,9 pontos.
Eles também registraram melhora no sono, nas aptidões físicas e na qualidade de vida.
Segundo o estudo, o extrato tomado nessa dose não teria provocado dependência, nem efeitos colaterais graves.
Matthias Karst, autor principal do estudo e professor de medicina da dor na Faculdade de Medicina de Hanôver, na Alemanha, destalhou à AFP que “nenhum efeito euforizante” foi observado durante o ensaio.