Generais da reserva pressionam o comandante do Exército em defesa de colegas julgados no STF, ampliando tensão entre militares e a Justiça. (Imagem: Ilustração/Ideogram)
Em meio ao julgamento inédito de generais no STF, cresce a pressão de oficiais da reserva sobre o comandante do Exército, em uma disputa que envolve prestígio militar, tensões políticas e o risco de abalar a relação entre Forças Armadas e Justiça.
por Alisson Ficher – 
A rotina dos bastidores militares no Brasil tem revelado episódios que chamam atenção até mesmo dos mais acostumados com a política.
Em um momento em que a Justiça julga oficiais de alta patente acusados de envolvimento em uma suposta trama golpista, generais da reserva decidiram intervir, ainda que de forma discreta.
O tom das mensagens é de alerta e preocupação com os possíveis impactos de uma eventual condenação.
Em uma das postagens, um general descreveu a situação como um risco institucional: “O Exército vai sangrar com tão inusitado julgamento. Os réus são todos generais com inestimáveis serviços prestados ao Brasil como ministros de Estado. Uma eventual condenação será muito mal recebida.”
O texto continua defendendo que caberia ao comandante da Força se pronunciar, já que apenas ele teria peso institucional para representar os oficiais.
Réus de alta projeção política e militar
O recado não é genérico.
Ambos chegaram ao posto de ministros de Estado durante o governo de Jair Bolsonaro e ocuparam funções estratégicas nas Forças Armadas ao longo da carreira.
Para os militares da reserva, esses oficiais desfrutam de alto prestígio interno e gozam de respeito entre subordinados, o que tornaria suas condenações um marco negativo sem precedentes.
Na história do Brasil, nunca houve condenação de oficiais-generais de tão elevado posto pela Justiça comum.
Grupo visto como moderado
A cobrança, curiosamente, não partiu de militares radicais, mas de generais da ala considerada moderada e legalista.
Segundo relatos, esse grupo acredita que o julgamento conduzido pelo STF está sendo direcionado e que o tom adotado pela Corte pode aumentar o desgaste entre a instituição militar e a sociedade.
Daí o apelo para que Tomás Paiva adote uma postura de defesa, mesmo que simbólica.
“Em função do alto cargo que exerce, ele é a única autoridade que tem poder para falar em nome da Força”, dizia outra parte da mensagem, reforçando a expectativa de que o comandante atue como escudo político e institucional.
Expectativa por posicionamento oficial
Até o momento, o Exército não divulgou uma resposta oficial às pressões.
A CNN informou ter procurado a Força, mas não obteve retorno.
Nos bastidores, analistas avaliam que qualquer declaração de Tomás Paiva pode ter consequências diretas sobre a relação entre o comando militar e o STF, ampliando a tensão em um momento de elevada sensibilidade política.
O historiador Lucas Pedretti, pesquisador do IESP/UFRJ, destaca que este é “um momento inédito na história do Brasil, no qual militares de alta patente estão sentados no banco dos réus e vão responder pelos crimes contra a democracia”.
Já a professora Adriana Marques, da UFRJ, reforça que o país “não tem tradição de investigar e punir militares que tentaram desestabilizar a democracia”, o que torna o julgamento ainda mais simbólico.
O resultado desse processo pode se transformar em um divisor de águas, revelando a real disposição do país em responsabilizar autoridades militares de alta patente.